Lojista 423
11 Móbile Lojista 423 | Outubro 2025 | Ano XLIII “Após oscilar dentro de uma estreita faixa nos últimos três meses, a alta da confiança do consumidor, de setembro, leva o indicador para o maior nível desde dezembro do ano passado e volta a delinear uma lenta recuperação das perdas incorridas no fim de 2024”, pontua a economista do FGV IBRE, Anna Carolina Gouveia. Segundo ela, o avanço reflete uma percepção mais otimista em relação à economia futura em todas as faixas de renda, impulsionada pelo mercado de trabalho ainda aquecido e pela recente trégua inflacionária. “No entanto, os altos níveis de endividamento e inadimplência das famílias seguem como um limitador da melhora mais robusta da confiança”, alerta. Entre os quesitos que compõem o ISA, o indicador de situação econômica local atual recua 0,8 ponto, para 93,2 pontos, e o indicador de situação financeira atual da família cai em 4,3 pontos, para 71,1 pontos. Em contrapartida, entre os quesitos do IE, o indicador de situação econômica local futura avança 6,9 pontos, para 104,6 pontos, recuperando mais do que as perdas incorridas nos três meses anteriores. A situação financeira futura da família também avança, subindo 4,1 pontos, para 83,9, revertendo parte da queda intensa dos últimos dois meses. Para o varejo de móveis, o dado mais relevante talvez seja a estabilidade do indicador de compras previstas de bens duráveis, que ficou em 88,2 pontos – o maior desde dezembro de 2024. Isso indica disposição moderada para compras, mas ainda sem um impulso significativo. VAREJO ENCONTRA RESPIRO PONTUAL O Índice de Confiança do Comércio (ICOM) também apresentou leve avanço, subindo 1,6 ponto em setembro, para 84,7 pontos, após duas quedas consecutivas. Segundo o FGV IBRE, esse resultado ainda não representa reversão de tendência, mas uma estabilização em patamar baixo. A alta foi percebida em cinco dos seis principais segmentos do comércio e veio tanto das avaliações sobre o momento atual quanto das perspectivas futuras. O Índice de Situação Atual (ISA- COM) subiu 1,7 ponto, para 88,2 pontos, com destaque para a melhora na percepção da demanda atual. Já o Índice de Expectativas (IE-COM) também avançou 1,7 ponto, para 82,0, com elevação tímida nas previsões de vendas e uma recuperação mais expressiva nas expectativas sobre os próximos seis meses. Apesar dos sinais positivos, a economista Geórgia Veloso, também da FGV IBRE, observa que o cenário de juros elevados e endividamento das famílias ainda limita a conversão de expectativa em consumo efetivo. “O momento favorável, de baixo desemprego e renda familiar em alta, não se traduz em otimismo porque os juros altos e o endividamento elevado freiam o consumo”, destaca. “Após dois meses de queda, a confiança do comércio subiu em setembro. No entanto, a alta não representou uma reversão do pessimismo, mas sim uma estabilização em patamar baixo”, afirma Geórgia. No mercado moveleiro, isso se reflete em um comportamento de compra mais cauteloso, onde o consumidor analisa mais antes de renovar ambientes ou investir em peças maiores, como estofados e dormitórios. No entanto, outubro marca o início do último trimestre do ano, tradicionalmente conhecido como o “trimestre de ouro” do varejo, impulsionado por datas como a Black Friday e o Natal. Mesmo em um cenário de cautela, muitos consumidores costumam reservar esses períodos para realizar compras de maior valor agregado, o que pode favorecer a retomada gradual das vendas no setor. De fato, os dados do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) de agosto – último levantamento disponível – indicam uma retração real de 2,6% nas vendas do varejo na comparação com o mesmo período de 2024, já descontada a inflação. Apesar disso, o acumulado do ano registra crescimento real de 1,7%, o que demonstra um ritmo moderado, mas positivo, com oscilações ao longo dos meses. No recorte setorial, os segmentos mais dependentes de crédito, como móveis e eletrodomésticos, seguem entre os mais afetados, o que reforça o ambiente de cautela para o setor. INFLAÇÃO PRESSIONA ORÇAMENTO DOMÉSTICO Outro fator que pode afetar diretamente o varejo é a inflação. O IPC-S da terceira quadrissemana de setembro subiu 0,33%, acumulando alta de 3,44% em 12 meses. A aceleração foi registrada em todas as sete capitais pesquisadas pela FGV. Recife liderou o aumento, com variação de 0,60%, impulsionada por itens como passagem aérea (18,03%). Já Brasília registrou a menor variação (0,17%), beneficiada pela redução no subitem tarifa de eletricidade residencial. Em São Paulo, a principal praça do varejo brasileiro, a alta foi de 0,31%, revertendo quedas anteriores. O aumento generalizado do IPC-S impõe pressão ao orçamento doméstico, o que tende a despriorizar compras de maior valor agregado, como móveis, especialmente em períodos sem estímulos promocionais ou datas comemorativas.
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