Práticas sustentáveis melhoram a imagem e os rendimentos das empresas

Profissionais comentam sobre a sustentabilidade no Brasil, que vem passando por um momento de transformação nos últimos anos

Publicado em 30 de novembro de 2018 | 08:00 |Por:

Sustentabilidade, ecologia, reciclagem. Essas palavras têm sido usadas sem muito critério ultimamente. Por outro lado, não é por isso que elas não deixam de ser importantes. Além de preservar o meio ambiente e, consequentemente, o planeta em que vivemos, práticas sustentáveis e ecologicamente corretas realmente valem o investimento, oferecendo retornos em médio prazo, menores custos e maior rentabilidade.

Segundo o diretor da Empresa Verde Consultoria, Gilbert Simionato, a sustentabilidade no Brasil passa por um momento de grande mudança. “Ainda é vista em vários segmentos como um custo para a empresa e não um investimento, mas em outros esta visão já está sendo alterada como ocorre na construção civil. Construções sustentáveis aumentam a cada dia, por consequência, os projetos de design, móveis e interiores já incluem a questão do ecodesign e, dentro deste segmento, o setor marceneiro está diretamente envolvido”, comenta.

A principal barreira dos empreendedores para não adotar práticas sustentáveis é o “gasto” em matérias-primas, insumos, máquinas e infraestrutura. Contudo, o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie especialista em Ciências Ambientais, Reinaldo Dias, argumenta que as empresas devem entender que há ganhos econômicos com esse envolvimento com a sustentabilidade e questões ambientais.

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Práticas sustentáveis

Especialista em ciências ambientais da Mackenzie, Reinaldo Dias

Apesar do investimento realizado, há contrapartida na redução de custos, melhora da imagem e das vendas da empresa, fortalecimento tanto da marca quanto do produto, valorização na sociedade e no mercado, retorno publicitário em mídia espontânea, ampliação de contratos com o setor público. Cada vez mais existe a exigência no comportamento sustentável das empresas e facilidade ao acesso de contratos com grandes empresas.

Ou seja, não é apenas um valor agregado para trabalhar com uma margem de lucro um pouco maior. As possibilidades são das mais variadas, porém, as companhias que não tiverem práticas sustentáveis correm sérios riscos de ficarem para trás.

“As marcenarias que não tiverem um certificado de origem do material que estão utilizando para a produção do seu mobiliário, daqui para frente, vão ter cada vez mais dificuldade na comercialização dos seus produtos e perder competitividade para aqueles que mostrarem essa origem da sua produção.”

“Os materiais têm um custo maior se pensarmos somente do ponto de vista econômico. O que temos que pensar também é no custo do ponto de vista social e ambiental e a médio e longo prazo, não somente em curto prazo do ponto de vista econômico”, analisa o professor da Mackenzie, que ainda afirma que atualmente é muito difícil para as empresas, principalmente as pequenas e médias, não se envolverem com nas questões e práticas sustentáveis.

“Em primeiro lugar porque as grandes estão pressionadas pela ISO14001 de 2015. Essa ISO, pela primeira vez na história, também está envolvendo a cadeia produtiva das grandes empresas. Ora, na cadeia produtiva destas estão as pequenas e médias, ou seja, elas não vão escapar mais de se envolver com a questão ambiental. Vai ter sempre uma pressão das grandes empresas sobre as micro e pequenas empresas, que estão na cadeia de valor, para que se envolvam nessas questões. Não tem mais como fugir disso”, afirma.

A designer do Senai Arapongas, Andressa Suemi Iyda, explica que não faltam tecnologias e materiais para a aplicação de práticas sustentáveis, como chapas certificadas, madeiras provenientes de reflorestamento, tintas e colas a base de água, embalagens recicláveis, entre outros materiais. Além disso, existem softwares e métodos digitais que dão o devido suporte a esse modelo de negócios.

“Podemos desfrutar de softwares para plano de corte com eficiência com o intuito de diminuir resíduos, softwares para plano de furação para maximizar a eficiência do equipamento e diminuir retrabalhos e trabalhos desnecessário, aprimorando a eficiência energética de todo o setor produtivo. Essas atitudes favorecem o marceneiro nos quesitos sustentáveis e econômicos, visto que ele irá reduzir custos de operação em todos os processos” frisa.

Sustentabilidade na prática

Um exemplo de práticas sustentáveis na produção é aplicado pela JCS Marcenaria, de São Paulo (SP). Segundo o proprietário José Antonio, são usados apenas painéis de MDF com selo FSC, com sistema para reutilização de sobras e sistema de exaustão que capta o pó e pequenas lascas que são armazenadas e encaminhadas para a reciclagem. “As sobras são sempre reutilizadas e apenas peças pequenas, de 10 cm x 15 cm, por exemplo, que são descartadas, mas não de qualquer jeito, são coletadas por uma empresa especializada que vai dar o destino correto”, comenta.

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Advogada ambiental, Caroline Schoenberger

Já a Marcenaria MMoura vai mais longe. Além de utilizar apenas matérias-primas de origem controlada, também trabalha somente com tintas a base de água e colas que não agridem o meio ambiente. “Se tem a opção, por que não escolher, não é? Não adianta ter todo o cuidado em trabalhar com MDF com selo FSC se na produção vai trabalhar com uma cola ruim”, questiona a diretora comercial, Andréia Pinho.

“É uma questão de ter foco, pois já está tudo tão ruim, não tem porque não fazermos a nossa parte. Como o dono da marcenaria, Marcos Moura, sempre diz ‘Por que não ajudar?’, e pensando dessa forma nunca houve a opção de não trabalhar com esse material. É um dever nosso”, complementa.

Em relação às sobras e resíduos, foi criada outra empresa, a MMoura Brindes, que recicla as sobras. “Todas as sobras de MDF são trituradas e transformadas em caixas para esse material. Criamos essa empresa para acabar não jogando fora ou descartando as sobras de uma forma inútil, também gerando um retorno financeiro. Acaba sendo um esforço coletivo. É bom para nós, é bom para o cliente que está levando um material com valor justo e com intuito, e também é bom para o planeta, que é o mais importante”, comenta a diretora.

– A importância de montar um planejamento estratégico para reduzir riscos

Segundo Andréia, a marcenaria também está com um projeto de substituição de todo seu maquinário para máquinas que utilizam energia solar, as quais podem ter maior custo, porém as vantagens recompensam em pouco tempo. “É ótimo, pois tem uma economia. Por mais que a máquina seja mais cara, o retorno vem em menos de um ano. Nós já fizemos um planejamento para daqui um ano e meio realizar a troca de todas as máquinas para termos um custo-benefício maior, pois a energia solar também torna mais rápida as máquinas para corte de MDF”, explica.

Sustentabilidade e inovação

De acordo com o professor Dias, da Mackenzie, o envolvimento das empresas com práticas sustentáveis fazem com que a companhia esteja inovando permanentemente, o que é uma prática necessária e fundamental para as empresas persistirem no mercado. Para adotar a sustentabilidade é preciso ampliar as possibilidades e ter inovações de modo que estas passem a ser um processo continuado criando um ambiente criativo.

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Primeira barreira analisada dos empreendedores que não adota práticas sustentáveis é o investimento em matérias-primas, insumos, máquinas e infraestrutura

“O que faz o envolvimento das empresas com as questões ambientais? É passar de uma economia marrom, do uso intensivo de combustíveis fósseis, para uma economia verde, do uso intensivo de energias renováveis. O que acontece com a empresa? Ela tem que inovar, e nós sabemos que, do ponto de vista do capitalismo, ocorre sempre uma destruição criativa das empresas que não inovam, ou seja, a empresa que não é inovadora perde para os concorrentes que são”, destaca Dias.

Segundo Andressa, do Senai Arapongas, assim como em todos os setores a sustentabilidade é a essência do futuro. Para ela, o ato de ser sustentável é muito mais que uma mera cordialidade, ser sustentável é ter a capacidade de produzir atendendo a geração atual, sem comprometer a geração futura, pois o uso de matéria-prima certificada, energia renovável, reutilização de resíduos entre outros métodos sustentáveis é um beneficio financeiro e, sobretudo, ambiental.

Multas e incentivos

A advogada ambiental Caroline Schoenberger afirma que, quanto a incentivos voltados a práticas ambientalmente corretas, é priorizada muito mais a pessoa física. As empresas, apesar da ampla cobrança em relação à sustentabilidade ainda sofrem a falta de incentivos fiscais provenientes do Poder Público. “Existem projetos de lei no qual se buscam a redução de tributos em razão da prática ambientalmente correta e há a necessidade de mobilização do setor produtivo para que estes projetos se tornem efetivos”, comenta.

Por outro lado, um incentivo já em vigor é o Sistema de Gestão Ambiental (SGA), cuja possibilita crédito fiscal para o pagamento de débitos relativos à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Para a implementação do sistema, é preciso que a empresa precisa criar uma política ambiental, analisar o impacto de suas atividades, executar ações para atingir as metas ambientais, monitorar e corrigir as ações e planejamentos e a buscar a melhoria contínua do sistema.

– GMad Fortaleza aposta em qualidade de atendimento para o marceneiro

Ao mesmo tempo, enfatiza Caroline, houve aumento na rigidez das punições às empresas que infringem as leis ambientais. Segundo ela, a multa por desmatamento ilegal pode variar de R$ 50 a R$ 50 milhões. “O marceneiro ou fabricante de móveis deve ter ciência de que, utilizando madeira de origem duvidosa, corre o risco não somente de multa, mas sim de responder criminalmente perante a justiça como coparticipante em crime ambiental, perdendo assim sua primariedade”, conclui a advogada.

Reportagem originalmente publicada na edição 101 da Móbile Sob Medida

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