Fornecedores 350
49 AGOSTO 2025 Também há indústrias moveleiras que já entraram em férias coletivas – leia no emobile.com.br em links no quadro desta reportagem. “Tememos um preju- ízo muito grande para essas empresas. Há empresas bastante dependentes do mercado americano, que exportam, às vezes, 80% da sua produção para os EUA com produtos exclusivos, que mui- tas vezes não conseguem recolocar em outro mercado”, conta e avalia Irineu. Se a indústria de móveis brasileira perde esse cliente, todo o desenvolvimento do produto será perdido, segundo o presidente da Abimóvel, o que também dificulta o acesso a outros mercados, que naturalmente não aconteceria de forma rápida, exigindo tempo, estrutura, planejamento, adaptação regulatória, readequação logística e reformulação comercial. O tarifaço na indústria moveleira já impacta mais de 100 empresas, majoritariamente de Santa Catarina, pelo volume e pela característica de madeira maciça. PROGRAMAS DO GOVERNO O Programa Acredita Exportação estabelece um sistema de devolução de tributos federais pagos ao longo da cadeia produtiva por micro e peque- nas empresas (MPEs) que atuam no comércio exterior. A nova legislação prevê que, a partir de 1º de agosto de 2025, empresas de menor porte – in- clusive aquelas enquadradas no Simples Nacional – possam recuperar até 3% da receita obtida com exportações, por meio de compensação tributária ou ressarcimento direto. A medida será válida até 2027. Para a Abimóvel, o Acredita Exportação reforça a estratégia de integração das MPEs à cadeia internacional, garantindo que tenhammelhores condições de concorrer com empresas de maior por- te, seja no mercado doméstico ou no exterior. “Acreditamos que essa combi- nação entre política fiscal, modernização aduaneira e capacitação industrial tende a gerar resultados mais consistentes para o setor e para a economia brasileira como um todo”, comenta Munhoz, presidente da Abimóvel. Já o Plano Brasil Soberano é um con- junto inicial de medidas para mitigar os impactos econômicos das tarifas. As ações buscam proteger exportadores brasileiros, preservar empregos, incen- tivar investimentos em setores estra- tégicos e assegurar a continuidade do desenvolvimento econômico do país. O plano é composto por ações separadas em três eixos: fortalecimento do setor produtivo; proteção aos trabalhadores; e diplomacia comercial e multilateralismo, garantindo R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) para crédito com taxas acessíveis, com am- pliação das linhas de financiamento às exportações; prorrogação da suspensão de tributos para empresas exportadoras; aumento do percentual de restituição de tributos federais via Reintegra; e faci- litação da compra de gêneros alimentí- cios por órgãos públicos. “No setor moveleiro, reiteramos que nossa prioridade seja a exclusão dos móveis de madeira e demais itens da pauta exportadora da medida ameri- cana”, diz Cândida, que prossegue: “Ainda assim, diante da urgência e da gravidade do cenário, é essencial que ações factíveis sejam colocadas em prá- tica para reduzir impactos imediatos e evitar perdas permanentes de mercado, priorizando-se instrumentos fundamen- tais para manter a atividade econômica e proteger empregos. Se implemen- tadas de forma rápida e coordenada, essas medidas podem garantir certo fôlego às empresas no curto prazo em ummomento de retração e incerteza. Toda iniciativa articulada com a indústria nacional é bem-vinda, desde que o apoio chegue efetivamente às empresas mais vulneráveis da cadeia produtiva”. FORNECEDORAS COMENTAM TARIFAÇO Se os Estados Unidos responderam por 28% das exportações de móveis e colchões prontos no primeiro semestre, a participação do país norte- -americano salta para 38,4% ao se considerar também os componentes, máquinas e demais suprimentos para a fabricação de móveis. Apesar do bom desempenho de móveis e col- chões prontos, o resultado agregado das exportações da cadeia de com- ponentes, tintas, vernizes, máquinas, equipamentos e demais insumos para a fabricação de móveis apresentou queda de 2,5% no primeiro semestre de 2025. O valor total exportado pas- sou de US$ 1,758 bilhão no mesmo período de 2024 para US$ 1,715 bilhão este ano. Resultado também decorrente das Ordens Executivas dos EUA que impactaram componentes, fornecedores e máquinas. Os dados são da Conjuntura de Mó- veis, publicação da Abimóvel, desen- volvida sob encomenda para o Iemi. A edição marca a ampliação do escopo do estudo, que passa a monitorar também o desempenho internacio- nal de 25 segmentos da indústria de suprimentos, iniciativa alinhada à nova vertical do Projeto Brazilian Furniture – realizado pela Abimóvel em parceria com a ApexBrasil. Para a fabricante de tecidos, Corttex, quando teve a briga dos EUA com a China foi bom. “Tí- nhamos mais navios que vinham para o Brasil, mais possibilidades e preços melhores de navios e de frete. Agora temos mais dificuldades para navios, temos preços mais altos dentro da lei da oferta e procura. Acaba tendo essa situação e, então penso que a gente se adapta e vai se adaptando”, avalia a gerente comercial, Rose Cervelatti. Segundo ela, porque as empresas continuam achando uma forma de vender. “O nosso cliente vai achar outro mercado. Não existe só o mercado americano. Isso está fortalecendo mais o nosso mercado, porque nós acaba- mos vendendo para outras regiões que podem ser exportadores para outros países. O mercado americano é o sonho de todo mundo, pelo volume que tem. Só que agora a indústria vai se reinventar para que possa exportar para países do Mercosul, por exemplo, que também vão ter dificuldade de comprar dos Estados Unidos. Penso que daqui a pouco tudo vai começar a voltar ao que era, pois vai se abrir mão de algumas coisas”, diz Rose.
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