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31 MAIO 2025 DERROCADA Com fábricas fechando e mais de mil pessoas indo embora, o diretor da Ozini confessa que há a tentativa da popula- ção seguir na cidade, mas ainda há mui- tas marcas de destruição no município, com áreas públicas sujas e largadas. Ele acredita que Muçum não voltará a ser uma cidade ativa economicamente. “Estamos nos mudando porque não tem mão de obra e estamos com mui- tos problemas de logística para atender os clientes. Tem casas que nem foram abertas, estão com um metro de lodo ainda. A parte que a prefeitura podia fazer de limpar e pintar a rua, isso foi reconstruído. As pessoas estão tentan- do seguir, mas as empresas estão indo embora”, conta o diretor da empresa. AOzini está preparando sua própria unidade fabril emArroio doMeio, com previsão de conclusão para o segundo semestre de 2025, embusca demaior es- paço necessário para a empresa expandir. A nova localização, próxima de Lajeado, tambémajudará namão de obra. “Ten- tamos ficar emMuçum, pois sou natural deMuçum, mas a projeção de espaço no novo distrito industrial que estão cons- truindo emMuçum, o tempo que ia levar nós não tínhamos como esperar”. Atualmente com 140 funcionários, a Decibal foi fundada em 1982 em Bento Gonçalves, mas está em Muçum há mais de 30 anos. Nesse tempo, viu uma enorme quantidade de empre- sas saírem do município, mas não considera sair devido a seus funcio- nários. “É óbvio que a gente também precisa pensar no futuro da empresa, mas há todos os compromissos que a gente tem com o trabalhador. Mas no momento somos 100% de Muçum”, diz o sócio-diretor da empresa. No início, o susto foi grande. “Nós queríamos sair, mas pensamos no nosso trabalhador, pois além de perder tudo, iriam perder o emprego. Tem gente que gosta de Muçum, pois tem raiz, tem família e não quer sair. Se a gente tirar o emprego, ajuda a matar a cidade”, avalia. Quase que o próprio rio fez isso com a enchente subindo na avenida principal e arrastando tudo pelo caminho. Mesmo com essa imagem na cabeça da população, Nelson enxerga que 99% das pessoas não abandonam Muçum. “Tem casas que nem foram limpas ainda, temmuita lama, madeira e não se consegue ter sorriso”. Ele acredita que deve ter cerca de 3mil pessoas na cidade após as enchentes e clama que alguémse interesse pela região e que ogoverno federal faça algo, pois o povo está cansado. Segundo ele, a cidade não teve nenhuma casa construída por órgãosmunicipais, estaduais ou federais, compoucodinheiro ajudando. “Não adianta ir governador, presidente,mulher dopresidente,mas só ficar no falatório. É precisoque, de fato, alguémfaça alguma coisa, porque dinheiro e recursos existem”. Evandro da Cubica Estofados também não viu investimento dos órgãos pú- blicos e acha que mais de mil pessoas foram embora. “Quem participa dos programas sociais estão sendo atendi- dos, mas as pessoas que trabalharam uma vida inteira estão desassistidos, perderam tudo e não contam com a ajuda do banco que não financia para construírem em lugares possivelmente alagáveis, que são onde as pessoas tinham sua terra. Assim como não financia para pessoas mais idosas”, conta Evandro, que acrescenta: “Essas pessoas estão muito prejudicadas, são as que mais estão sofrendo”. Na cidade, foi criado o Projeto Recupe- ra Muçum para arrecadar R$ 6 milhões para comprar um terreno e construir um bairro sustentável em uma zona rural e dar para as pessoas em zonas não alagáveis. “Estamos com 600 mil reais em caixa”, diz Evandro. Todo o valor arrecadado será divulgado nas redes sociais (@recuperamucum) e a prestação de contas pode ser acompa- nhada no site recuperamucum.com.br. Efeito das mudanças climáticas que volta e meia assolam o planeta Terra, também é evidente a pouca ação do governo para interferir no local e se prevenir contra esse tipo de proble- ma. “A gente briga para ter uma dragagem. Qualquer água a mais vai alagar de novo. Penso que no futuro, as pessoas não vão ter outra opção a não ser sair de lá. Não de imediato, mas aos poucos”, diz Evandro. Nel- son corrobora: “Precisamos de ajuda, porque a cidade por conta própria não sei se vai conseguir ter volta, talvez daqui a muitos anos”. Thiago Rodrigo “Muita gente saiu da cidade, alguns voltaram para suas casas por não terem recursos para buscar outras alternativas”, diz Evandro, da Cubica Estofados

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