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29 MAIO 2025 PRENÚNCIO O Brasil tomou conta disso em maio de 2024, quando as calamitosas cenas de água em casas, comércios, estradas e o aeroporto da capital gaúcha tomaram conta do noticiário. Só que no ano anterior, quatro dias após as simultâneas feiras Movelsul e Fimma encerradas no dia 31 de agosto, uma ameaça com muitas vítimas já havia sido feita. “No dia 4 de setembro mui- ta gente morreu em Muçum e Roca Sales”, relembra o diretor da Ozini Móveis, Patrick Fernando. Naquela ocasião, um ciclone ex- tratropical provocou enchentes e vitimou 54 pessoas (a última encon- trada sete meses depois) no Vale do Rio Taquari (17 em Muçum), além de deixar quatro desaparecidos. O rio Taquari subiu a 29 metros, 10 metros acima do limite de inundação e 16 metros acima do normal. Além de muitas casas, a ponte que liga Muçum a Roca Sales foi destruída, demandando 40 km a mais para fazer o trajeto entre os municípios. Um ano e seis meses depois, foi reinaugurada no dia 8 de março ao custo de R$ 9,6 milhões. Um mapeamento feito pelo gover- no do estado gaúcho nas residên- cias da área urbana de Muçum, mostrou que pouco mais da meta- de estão em condições de voltarem a ser habitadas. De 510 imóveis residenciais vistoriados, 12 foram considerados próximos demais a residências afetadas ou a encos- tas de rio, com risco à estrutura. Houve 119 imóveis totalmente destruídos, o que representa quase um quarto do total. No comércio e indústria, mais de mil empresas foram afetadas no Vale do Taquari. Uma semana antes da primeira enchente, em setembro de 2023, uma chuva de granizo atingiu bas- tante a fábrica da Cubica Estofa- dos, destruindo 90% das placas de energia fotovoltaica da empresa. Localizada em uma parte mais alta, a empresa teve os fundos do terre- no levemente inundado. O mesmo não ocorreu com os trabalhadores. “Muitos funcionários perderam a família. Perderam casa e carro. Nossa empresa foi mais atingida pelo psicológico”, diz o diretor industrial, Evandro De Lazzari. Ele conta que o sócio-diretor da Cubica Estofados teve a casa alaga- da na altura da janela do segundo andar. Duas funcionárias presentes na Movelsul 2025 tinham perdido suas casas. “Uma delas está moran- do de aluguel e outra que vive em Roca Sales conseguiu limpar ela e voltar. O psicológico dessas pessoas para voltarem ao normal é difícil. O pós-enchente cria uma demanda diferente para nós porque a gente tem de ajudar a conseguir que essas pessoas tentem voltar ao normal”, comenta o diretor sobre o trabalho mental necessário em situações como esta. Ainda na primeira enchente em Mu- çum (a segunda foi em novembro do mesmo ano), a Decibal Móveis doou seus produtos para os funcionários e não descontou nenhum dia de trabalho. Foram quatro mil móveis, compostos por roupeiro e kit de co- zinha, somado com uma campanha da marca de móveis para arrecadar outros itens com outras empresas, como a Tramontina, que ajudou com 100 pias de inox. “Buscamos fogões, geladeiras, e algumas coisas nós bancamos. Foi uma situação emocionante porque as pessoas choravam, era uma comoção grande e eles agradeciam dizendo: ‘é por aqui que eu começo, por aqui que consigo pensar em reconstruir um pouco minha vida’. E até hoje a gente vê relatos assim”, relata Nelson Civardi, fundador e sócio-diretor da empresa de mais de 40 anos de história. A logística da Decibal foi muito afetada no final de 2023 com as quedas de pontes que conectam Muçum a outros municípios. “O polo moveleiro é Bento Gonçalves. A nossa logística é por Dois Lajea- dos, que teve uma ponte destruída que nem sonham em começar a reconstruir. Por Santa Tereza temos a possibilidade de um trajeto”, declara o sócio-diretor sobre a ponte finali- zada em março de 2025. Patrick Fernando, diretor da Ozini Móveis Thiago Rodrigo

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