Pintura “meio a meio” é tendência no mobiliário

Técnica Dip Dye se caracteriza por pintura em apenas parte do móvel e se torna opção para marceneiros personalizarem seus produtos

Publicado em 11 de outubro de 2018 | 08:00 |Por:

Para marcenarias que utilizam o processo de pintura para o acabamento dos móveis, uma nova tendência no mobiliário se torna uma alternativa. O efeito dip dye é uma técnica simples de coloração que gera a impressão do móvel ter sido mergulhado parcialmente na tinta e tenha ficado o restante na própria madeira. A prática valoriza a originalidade do móvel e, simultaneamente, moderniza o visual do mobiliário, principalmente aqueles de aspecto pesado.

O dip dye surgiu como forma de inovar peças do vestuário e alcançou o universo moveleiro, tornando-se uma tendência no mobiliário. Pode ser usado em um móvel fabricado especificamente para um ambiente ou em um móvel antigo, como forma de atualizá-lo sem o descaracterizar. “O dip dye oferece ao móvel um efeito divertido, por fugir dos padrões convencionais de que o móvel deve ser inteiramente pintado ou todo em madeira”, afirma a designer Sandra Guadagnin Cruz.

Divulgação Madeira em Forma

Técnica dip-dye é tendência no mobiliário

“Inovações como esta surgem no mundo da moda e se estendem ao mundo da decoração, como tecidos para estofados, objetos decorativos e móveis”, assinala Sandra Cruz

A tendência no mobiliário de buscar inovações para diferenciar os produtos no mercado alcança esta técnica que renova, principalmente, o visual de móveis de pequenas dimensões. A arquiteta e designer de interiores, Lilian Fajardo, assinala que o efeito customizado personaliza o móvel de forma que ele se torne singular.

“Com a sustentabilidade em voga, móveis que iriam para o lixo ganham cara nova e voltam a fazer parte do décor. A busca pelo novo traz outras inspirações. É o convite e a época certa para criar, descombinar, inovar e testar todas as possibilidades”, destaca.

Na prática

Para a designer Sandra Cruz – que também trabalha em uma marcenaria de restauração de móveis e divulga seus trabalhos no blog Madeira em Forma – entre as marcenarias que estão mais predispostas a aplicar esta técnica são as que trabalham com designers e arquitetos.

Em comum acordo, eles podem inserir propostas de inovar em algum móvel neste contexto. “Criar peças exclusivas, seja por encomenda de clientes ou pela intenção de desenvolver uma linha própria de produção, exige o suporte de uma equipe de produção disposta a encarar o novo, que tenha ‘feeling’ para harmonizar madeira com cor, visto que deve haver um equilíbrio entre ambos”, considera.

Segundo ela, saber quais partes colorir e em quais deixar a madeira aparente não é tão simples quanto parece. “Neste momento entra o trabalho do designer que, com softwares adequados (Sketchup, Kerkythea, Promob e outros), pode simular acabamentos em várias opções e chegar à proporção adequada”. Sandra acrescenta também que para iniciar o desenvolvimento de móveis com esta técnica, é preciso se desprender dos padrões de mercado e encaixar a novidade sem impactar a produção convencional da marcenaria.

Divulgação Madeira em Forma

Técnica dip-dye é tendência no mobiliário

Simplificando, o dip dye significa apenas colorir um pedaço do móvel como se tivesse mergulhado uma parte dele na lata de tinta

“Pode-se começar por peças pequenas e mostrar aos designers e arquitetos parceiros por meio de marketing direcionado. Isso facilitará a aceitação no mercado”, diz. Os clientes da marcenaria também podem receber fotos dos projetos desenvolvidos para conhecerem a técnica e, por exemplo, solicitar o restauro de um móvel com o efeito dip dye.

A técnica que virou tendência no mobiliário é ideal para pequenos móveis visto que o impacto visual é expressivo. “Assim, este móvel será a referência no ambiente, porém, terá de dialogar com o restante”, frisa Sandra. Para clientes mais ousados as possibilidades são grandes, como colorir cadeiras com design iguais, porém, com proporção de pintura diferente, sempre no mesmo tom.

Arquivo Pessoal

“Está em voga pintar a ‘barra’ dos móveis e também fazer uma pintura ‘meio a meio’, sendo que uma parte da pintura é lisa e a outra é envelhecida, natural”, diz Lilian Fajardo

O custo para a criação desta técnica, é claro, varia para o tamanho do móvel, e de acordo com a design geralmente equivale ao acabamento único que seria submetido no móvel. “Ou seja, todo pintado (colorido), com acabamento natural (seladora) ou um verniz específico (poliuretano e outros)”.

A arquiteta Lilian Fajardo considera que a técnica simples tem baixo custo e é ideal para móveis em madeira. Os passos também são simples, como lixar a parte do móvel que será reformulada para remover a tinta e o verniz existentes e fazer a marcação da divisão com fita crepe para, então, aplicar a nova tinta e o verniz. “O contraste deve ser bem aparente realçando uma parte e outra”, ressalta.

Satisfação

O resultado final da aplicação da técnica dip dye tende a agradar clientes que buscam projetos exclusivos por meio de designers e arquitetos, que tendem a aceitar melhor as novidades. “[São aqueles clientes que] gostam de peças inusitadas e as agregam ao projeto, valorizando-os e fugindo especificamente do efeito ‘vitrine’ em que tudo é igual”, declara Sandra Cruz.

Segundo ela a tendência no mobiliário pode crescer ainda mais no mercado moveleiro, pois há sede de inovação. “Nas grandes feiras já não é novidade. Marcas como as espanholas Arlex e Kendo e a italiana Moroso já apresentaram móveis com a técnica. E, provavelmente, em breve, se estenda a móveis comercialmente acessíveis uma vez que tendências caminham para o uso em comum”, aponta.

Confira um passo a passo sobre como aplicar a técnica dip-dye

O proprietário da Provençal Móveis para Decoração, Henrique Antunes, diz que ainda não conhecia e gostou deste efeito de pintura. O marceneiro enxerga o dip dye como algo simples de executar, porém não tão tranquilo de “projetar”. “É fácil de fazer, pois não há a necessidade de pintar tudo, porém é difícil já que grande parte dos marceneiros não possui uma formação de designer para a criação”, afirma.

Antunes, conta que sua marcenaria trabalha com laqueamento de mobiliário antigo e móveis de época e que dependendo do móvel não seria tão simples projetar esta estética. “Em móveis fechados como tajer (móvel antigo para guardar louça) a história seria outra. A tendência é muito interessante, mas infelizmente, nem todas as casas tem suporte para receber um móvel assim”, opina.

Origem da tendência no mobiliário

O dip dye, assim como outra técnica o tie dye, vem do universo da moda. Ambos são muito conhecidos no meio têxtil e, até mesmo, em salões de beleza. Estas técnicas foram descobertas na década de 1960 e 1970 com as roupas manchadas em degradê, muito usadas pelos hippies, e com os ombré hairs, hoje conhecidos como ‘mechas californianas’. Na moda, o tie dye (na tradução “amarrar” e “tingir”) exibe um tecido manchado. Já o dip dye (“imergir” e “tingir”) é semelhante, porém a peça não é amarrada nem torcida e a pintura fica restrita à barra da roupa. “E como a moda e a decoração andam juntas o “Dipped Furniture” ou dip dye virou tendência”, enfatiza a arquiteta Lilian Fajardo.

Reportagem originalmente publicada na edição 97 da Móbile Sob Medida

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