O que é e como iniciar uma gestão da inovação na indústria moveleira

Estratégia permite que as empresas escapem da “guerra de preços” e iniciem uma cultura continuada de criatividade

Publicado em 27 de agosto de 2018 | 10:30 |Por:

No mercado atual, inovação é uma das palavras de ordem. Soluções criativas – sejam elas em formas de produtos, processos produtivos ou nas campanhas de marketing – não apenas pavimentam o caminho para diferenciais competitivos de uma empresa, mas, em muitos casos, consistem em uma questão de sobrevivência econômica. A gestão da inovação na indústria moveleira é uma das maneiras de manter as estratégias inventivas em constante desenvolvimento no setor e nele se destacar.

Mas o que é exatamente a gestão da inovação? Equivale a implementar dentro de uma organização processos para viabilizar, encorajar e recompensar, de modo continuado, ações inovadoras. Ou seja, é não mais depender da inspiração esporádica e momentânea de líderes ou funcionários, mas sim estabelecer um método rotineiro, apoiado em métricas, para a geração de novas ideias.

Palestras enfocam inovação no 9º Congresso Nacional Moveleiro

A gestão da inovação na indústria moveleira pode não apenas aumentar os diferenciais de uma empresa, mas também protegê-la contra a obsolescência. Um estudo conduzido pela Dell Technologies com quatro mil líderes empresariais revelou que 45% deles temem que seus negócios fiquem ultrapassados nos próximos três a cinco anos. Um temor justificável, já que até grandes companhias como a Kodak, Blockbuster e o MySpace fecharam as portas nos últimos anos devido a incapacidade de inovarem.

Entretanto, mesmo diante deste cenário, o Brasil tem demonstrado pouca força de investimento em inovação. O país ficou em 69º lugar no ranking do Índice Global de Inovação em 2017: o poder público desembolsou R$ 38,3 bilhões, enquanto o setor privado, R$ 38,1 bilhões. Para efeitos de comparação, os EUA aplicaram R$ 2 trilhões, a China R$ 1 trilhão e a Alemanha R$ 407 bilhões, sendo estes três países a ocuparem o topo da lista.

Princípio da gestão da inovação na indústria moveleira

Em âmbito nacional, uma das empresas referência em gestão da inovação é a Innoscience, que já trabalhou com companhias como Coca-Cola, O Boticário, Ford e Johnson & Johnson, por exemplo. O sócio-fundador da empresa, Felipe Ost Scherern, afirma que cada segmento empresarial requer estratégias distintas, pois os diferentes ciclos de vida dos produtos condicionam as práticas a serem adotadas.

Arquivo pessoal

Felipe Ost Scherern: muito além do produto, setor moveleiro pode inovar em outros aspectos do negócio

“A gestão da inovação na indústria moveleira, por exemplo, tem foco grande em produto. Mas vejo que há no segmento oportunidade para inovar também em outras dimensões do negócio. Existe o sentimento que produto, com design espetacular e preço competitivo vai resolver tudo, mas podemos atentar também para outros elementos como a experiência de compra, o relacionamento com cliente, os canais de comunicação: oportunidades tão interessantes e não excludentes com relação aos produtos”, diz o empresário.

Scherern argumenta também que a gestão da inovação na indústria moveleira é uma via que as empresas podem trilhar para fugir da “guerra de preços”, na qual as concorrentes buscam superar umas as outras com ênfase em produtos cada vez mais baratos. O problema deste contexto é que, a longo prazo, as margens de lucro dos negócios acabam se corroendo.

“Na medida que o cliente não enxerga diferencial entre duas propostas, ele necessariamente vai escolher a mais barata. Agora, quando o cliente enxerga uma proposta que não tem parâmetro de comparação, a questão do preço perde terreno. O comprador demonstra-se disposto a pagar mais por um produto, desde que ele tenha algum elemento inovador, que resolve seus problemas. Por consequência, a busca pela inovação traz margens de lucro superiores”, afirma.

A metodologia da Innoscience para cultivar um ambiente de inovação é composta por oito princípios (o “Octógono da Inovação”), e eles podem ser incorporados à gestão da inovação na indústria moveleira. São eles:

O Octógono da Inovação, segundo a Innoscience

1 – Estratégia da inovação: processo continuado de decisões e clara definição da direção a seguir para otimizar a contribuição nos resultados da empresa. É necessário alinhar estratégia de negócios com estratégia de inovação.

2 – Relacionamentos para a inovação: considera que as fontes de ideias e as atividades de inovação não devem se restringir a um pequeno grupo, mas deve ocorrer em rede, inclusive terceirizando fases com outros agentes. A velocidade, ou aceleração, com que os conhecimentos novos ultrapassam os anteriores impossibilita que uma empresa sozinha consiga acompanhar a evolução.

3 – Cultura da inovação: a cultura de uma organização refere-se às normas aceitas por todos, às crenças e aos valores comuns que dão forma ao comportamento das pessoas na organização. Mudar a cultura organizacional é complexo e pode requisitar ações para avaliar colaboradores, incentivar a colaboração e modificar o layout organizacional.

4 – Pessoas para a inovação: as pessoas precisam estar preparadas e adequadamente estimuladas para inovar. Neste quesito é preciso prepará-las para saber como inovar na prática, organizar times voltados para a inovação e esclarecer as metodologias envolvidas.

Pexels

Gestão da inovação envolve a preparação de pessoas para a busca constante pela criatividade

5 – Estrutura da inovação: a alta gestão precisa ter conhecimento de que uma empresa inovadora possui uma estrutura que possibilita a criatividade, a interação e a aprendizagem. Entretanto, não há uma estrutura única que sirva para todas as organizações. Cada uma deve achar a melhor adequação entre continuidade e mudança, mas uma estrutura organizacional mais plana, com poucos níveis hierárquicos, tende a favorecer as trocas e a comunicação.

6 – Processo da inovação: poucas empresas apresentam um processo estruturado e formal de gestão da inovação. A dimensão de processo trata da forma como a empresa gera novas ideias, como as avalia, experimenta e seleciona em quais investir.

7 – Funding para a inovação: Os investimentos destinados à inovação podem ter outras fontes e se alicerçar em parcerias, repartindo-se os custos e os riscos. Há mecanismos de financiamento a juros baixos, oferecidos por agências e bancos de desenvolvimento, bem como alianças estratégicas com fornecedores, clientes e até concorrentes, caso o volume de recursos envolvidos seja inviável de ser custeado por uma única empresa.

8 – Liderança para a inovação: quando se fala em liderança, em geral se está referindo à alta administração. Se ela não estiver comprometida com a inovação, ou se o discurso do novo não consubstanciar na prática, a inovação não será prioridade. É preciso que os líderes deem o primeiro exemplo.

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